Por: Pedro Meijer | Prompte et Sincere

O cristianismo prático é, ao mesmo tempo, um Cristianismo Espiritual — com “E” maiúsculo. Não pode ser diferente. Gálatas 6.9-10 está claramente inserido no contexto da “vida pelo Espírito”.

Basta conferir alguns versículos anteriores: 5.16, “Andai no Espírito”; 5.18, “sede guiados pelo Espírito”; 5.25, “Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito”. O capítulo 6 se inicia com: “vós, que sois espirituais”, e em 6.8 lemos: “o que semeia para o Espírito”. Resumindo: toda essa seção da carta fala sobre a atuação do Espírito Santo e sobre a vida espiritual. Conclusão inevitável: o versículo 10 está inserido nesse mesmo contexto.

Retornando à expressão “cristianismo prático”: ela se encontra, de forma evidente, nas palavras “façamos o bem, enquanto tivermos oportunidade”. Costumamos dizer que nos falta tempo para fazer o bem às pessoas. Mas o apóstolo Paulo parece considerar esse argumento uma desculpa superficial. Para ele, sempre há uma oportunidade.

Repare na palavra “enquanto”. Sim, a vida é limitada e nem sempre podemos tudo. Assim como nem sempre é tempo de semear (v.8), nem todas as situações são favoráveis. Mas, mesmo assim, Paulo nos orienta: use o tempo da sua vida para ser um benfeitor — como cristão —, imitando Aquele que é o Grande Filantropo (Tito 3.4).

Mais um ponto a considerar: talvez pensemos que Gálatas 6.10 é um mandamento fácil de seguir — afinal, por que não fazer o bem a todos, sem distinção? Mas não é tão simples. Sabemos que, nas igrejas da Galácia, havia tensões justamente nesse ponto. Cristãos judeus e gentios precisaram aprender a conviver e a valorizar uns aos outros. Havia dificuldades concretas: os cristãos judeus tinham reservas quanto aos irmãos não circuncidados, recém-saídos de uma vida pagã. Seja honesto: você, sendo judeu-cristão naquela época, teria facilidade em fazer espontaneamente o bem a alguém que até pouco tempo vivia no paganismo?

Fazer o bem a todos nunca foi fácil. Ainda hoje, há resistências — conscientes ou não — dentro das igrejas. Nem sempre é fácil para cristãos de diferentes origens culturais ou sociais se acolherem plenamente. Todos nós enfrentamos o desafio de romper com as bolhas em que vivemos e com nossas preferências por determinados tipos de pessoas. Sejamos francos: não é comum preferirmos, por exemplo, a companhia de um professor universitário à de um motorista de ônibus? O apóstolo nos conhece bem e, por isso, insiste: “façamos o bem a todos”.
Gálatas 6.10, repito, não é um versículo simples.

Ainda há outra armadilha embutida nesse texto: a de usar a segunda parte — “principalmente aos da família da fé” — como desculpa para não fazer o bem a todos. Cristãos judeus, por exemplo, poderiam se agarrar a essa frase para justificar o distanciamento dos gentios, uma vez que o Antigo Testamento os ensinava a manter-se separados dos pagãos. Mas Paulo não escreve isso com intenção exclusiva. Ele aponta uma prioridade — sim, devemos cuidar em primeiro lugar dos nossos irmãos na fé, da comunidade ao nosso redor. Mas isso não exclui os demais. O versículo começa com: “façamos o bem a todos”.

Portanto, como cristãos, temos a tarefa de fazer o bem também aos familiares incrédulos, aos vizinhos, colegas de trabalho, amigos de esporte — mesmo que não compartilhem da nossa fé.

Que o Senhor nos conceda criatividade, disposição e sabedoria para cumprir a missão que o apóstolo nos confiou.

Gálatas 6.10 é um versículo belo, profundo e desafiador.

Share.
Leave A Reply