Por: Charles Melo de Oliveira | Prompte et Sincere

6 Ora, como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele; 7 radicados e edificados nele, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graças. (Cl 2.6-7)

Para o apóstolo Paulo, não existe um hiato entre crer e viver. Nossa cristologia e nossa ética são inseparáveis. Assim como os colossenses receberam Cristo, provavelmente através do ministério evangelístico de Epafras, eles são exortados a andar nele. O chamado “erro colossense” caracterizava-se pelo docetismo e estava ligado às tendências judaizantes, a uma cristologia distorcida e a práticas de autossuficiência. Dentro deste cenário, a “tradição” — de vital importância para os judeus — que os crentes daquela cidade abraçaram foi Cristo, como se pode deduzir de uma exegese cuidadosa do verbo “recebestes” em v. 6, e não o que os judaizantes pregavam. A tradição aceita pelos colossenses é o próprio Cristo, o cerne do mistério de Deus (1.27, 2.2), e o senhorio de Cristo sobre todas as coisas, tanto na criação quanto na reconciliação (1.15-20). É por isso que Paulo enfatiza que os crentes de Colossos devem continuar vivendo nele.
Observemos a expressão “Andai nele” ao final do versículo 6. Paulo usa um verbo imperativo em grego, mostrando que não há distância, separação ou espera entre o crer e o viver. Contudo, andar em Cristo, longe de ser um esforço humano, é fruto da graça de Deus atuante em nossas vidas. O texto indica que, estando em Cristo, não devemos nos radicar, edificar e confirmar por esforço próprio; essa não é a mensagem. A ideia é que, uma vez salvos por Cristo e regenerados por Sua graciosa vontade, nós naturalmente andamos nele, confiando em Sua obra. Ele é quem efetua isso em nós.
Este texto destaca de forma contundente a supremacia de Cristo sobre todas as coisas, especialmente em nossa salvação, e se opõe vigorosamente às noções de autojustificação e autossuficiência promovidas pelos falsos mestres de Colossos. Essas verdades são realçadas através dos quatro verbos em particípio (em grego) que estão modalmente subordinados ao imperativo “andai”. São eles: “radicados”, “edificados”, “confirmados” e “crescendo”. Os três primeiros indicam ações passivas, ou seja, não somos nós que nos radicamos, edificamos ou confirmamos. Essas são obras realizadas por Cristo em nós. Somos insuficientes e impotentes; Cristo é todo-poderoso. Em Cristo, encontramos nossa suficiência.
Os crentes de Colossos são instruídos a viver conforme foram ensinados e são chamados a crescer em ações de graças. O verbo “crescendo” em “crescendo em ações de graças” (v. 7) sugere uma ideia ativa e nos convoca à responsabilidade de reconhecer a graça divina que opera em nós e sermos gratos através de uma vida de amor e serviço. Compreendendo que éramos “inimigos e estranhos” (1.21) e que, por meio de Cristo, fomos transformados em “santos, inculpáveis e irrepreensíveis” (1.22), só nos resta reagir agradecidos em serviço e amor.
Em resumo, irmãos, a identidade de um crente deve ser fundamentada em Cristo e no que Ele realizou na cruz. Isso significa enxergar-se primeiramente como alguém que foi redimido e reconciliado com Deus por meio de Cristo. Tal identidade não se baseia em realizações pessoais, status social ou qualquer outra marca de distinção humana, mas na obra consumada de Cristo. Os crentes são chamados a viver de forma que reflita essa identidade, rejeitando qualquer tentativa de encontrar suficiência, valor ou satisfação fora de Cristo.

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Pastor da Christian Community Church (PCA) em Danbury, CT, desde janeiro de 2016.Ordenado ministro presbiteriano em 26 de fevereiro de 2000, pelo Presbitério de Japeri.

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