Por: Rev. Cláudio Mota | Prompte et Sincere

“Ele respondeu: Tenho sido em extremo zeloso pelo SENHOR, Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derribaram os teus altares e mataram os teus profetas à espada; e eu fiquei só, e procuram tirar-me a vida.”
(1 Reis 19.14)

A solidão ou o sentimento de solidão é o assombro do coração para o ser humano, que foi criado para viver em comunidade. A afirmação categórica de Deus, ao afirmar que não é bom o homem estar só, não trata apenas do relacionamento com sua auxiliadora, mas também da sua relação social e comunitária com aqueles que haveriam de nascer do primeiro casal. Crescer e multiplicar é a ordem implícita que termina com a solidão.

Entretanto, muitas vezes, rodeados de pessoas, o sentimento solitário toma conta das afeições, provocando outros tantos sentimentos conflitantes. Foi em um momento como este que Elias se refugiou numa caverna, desesperançado, amedrontado e prostrado. Derrotado antes mesmo da própria batalha que tanto temia. O contexto nos faz lembrar que pouco antes esse mesmo profeta enfrentara os 450 profetas de Baal que foram mortos em juízo, após a manifestação extraordinária de Deus no monte Carmelo.

Podemos imaginar como um profeta de tamanha envergadura, coragem e firmeza sucumbiria a tal sentimento? Aquele mesmo profeta que Tiago, em sua epístola, faz menção: “homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos”. Embora o texto pretenda nos conduzir a imitá-lo na oração fervorosa, nos apegamos mais às suas fragilidades. E eis que declaramos aqui e acolá, como um grito de socorro: “fiquei só!”

Parece que esta máxima é emblemática e até um estigma no ministério pastoral. Há um certo orgulho em dizermos por aí que o “pastorado é um ministério solitário”. É certo que nos deparamos com momentos circunstanciais e eventos que marcam a memória eclesiástica num aparente isolamento. Mas não devemos sucumbir ou perpetuar tal situação. Pelo contrário, como pastores, temos uma obrigação moral de reverter essa condição, até mesmo porque defendemos a comunhão dos santos com unhas e dentes; como poderíamos ficar, então, de fora dela? Como orientamos o rebanho a tomar as “medicações” para a solidão, e nós mesmos não as utilizamos?

Pois bem, Elias não estava só! Ali com Elias estava o Deus de Abraão, Isaque e Jacó! O Deus de Moisés, Samuel e Davi. O Deus de Israel! Logo depois, caminharia lado a lado (até à carruagem) com o seu sucessor Eliseu, e como se tais companhias não fossem suficientes por si só, por lá estavam sete mil que não dobraram os seus joelhos a Baal. Número interessante: sete da perfeição multiplicado por 1000 da completitude. Ninguém a mais, ninguém a menos. O número exato de todos aqueles que se unem a um só Senhor. O Corpo perfeito.

Outros servos de Deus também enfrentaram momentos solitários, por certo. Jacó, fugindo de seu irmão e sonhando em travesseiro de pedra. José na prisão do Egito, Davi fugindo e fingindo-se amalucado, entocado muitas vezes em cavernas, longe de Belém. “Ah, quem me dera beber das águas de Belém”. Daniel, Jeremias. Quanta sede nos ministérios pastorais, quantas cavernas, covas, fossos, quantas trancas, quantos travesseiros de pedra? Ainda assim, não estamos sós (muito menos eles).

Quando o assombro da solidão obscurecer o nosso dia, apertar o nosso peito, estremecer as nossas pernas e enfraquecer as nossas mãos, lembremos: não é bom que o pastor esteja só. E ele não está. Ele é também ovelha do Supremo Pastor, ovelha entre ovelhas, pastoreando e sendo pastoreado pelos
conservos presbíteros, pelos anciãos, pelas famílias da igreja, pelo abraço das crianças, pelo sorriso dos novos convertidos, pelas lágrimas sinceras dos agradecidos. Pastoreados pela Igreja viva de Deus, o corpo perfeito de “sete mil” irmãos.

Não estamos sós e não devemos nos isolar nas cavernas (existenciais) do ministério. Na verdade, fomos escolhidos, somos capacitados e estamos sob os cuidados e autoridade daquele que, definitivamente, ficou só para acabar a nossa solidão. Jesus ficou só no calvário. Ninguém poderia acompanhá-lo e beber o cálice que não lhe foi afastado. Estava só. Seu brado ecoou Eli, Eli lamá sabactâni! Ele não chamava por Elias, nós, “Elias”, é que precisamos clamar por ele para que nos livre da terrível solidão de estarmos longe e alienados de Deus. Ali, Eli era o próprio Pai que o julgava por nós. A sua Ira lançada sobre o Filho nos livrou da ira vindoura, reconciliando-nos consigo e fazendo-nos seus filhos.

Não estamos sós e não devemos caminhar solitariamente no ministério. Ouçamos o suave sussurro (tranquilo e suave cicio) da voz de Deus reafirmando: você não está só.

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Bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano Rev José Manoel da Conceição JMC. Especialista em Teologia Biblica pelo CPAJ Centro de Pós Graduação Andrew Jumper, Mestrando MDiv pelo CPAJ.

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