Por: Pieter Meijer | Prompte et Sincere

“Antes de ser afligido, andava errado, mas agora guardo a tua palavra” (Sl 119.67)…
“Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos” (Sl 119.71)…
“Bem sei, ó SENHOR,…que com fidelidade me afligiste”(Sl 119.75)

    A mensagem do SENHOR, nestes três versículos, pode parecer estranha, aflição e sofrimento como formas de ensino dEle. Mas o salmista nos fala de sua própria experiência, e reconhece a sabedoria do Senhor nestas formas de ensino.

    “Aflição” é uma palavra forte, especialmente ao percebermos que foi o próprio SENHOR que afligiu o salmista (vers. 75). Não conhecemos o tipo exato de aflição que ele enfrentou. O salmista questiona se pode haver algum benefício no sofrimento enviado por Deus. Na sociedade contemporânea, há uma relutância em aceitar o sofrimento. Surgem questionamentos como: se Deus é amor, como poderia permitir que milhões morressem na Segunda Guerra Mundial? Qual o sentido do sofrimento das crianças famintas na África? Por que existem terremotos, inundações, incêndios, pobreza e doenças incuráveis? O Salmo 119 oferece algumas respostas. O versículo 71 diz: “Foi-me bom ter passado pela aflição.” Por quê? A segunda linha responde: “para que aprendesse os teus decretos”. Portanto, a aflição serviu como um instrumento nas mãos de Deus para que o salmista compreendesse melhor suas palavras. É importante notar que não é minha função julgar um irmão crente que esteja sofrendo, nem concluir que ele precisa aprender lições dolorosas de Deus. Essa conclusão deve ser tirada pelo próprio indivíduo, assim como fez o salmista.

    De qualquer forma, Deus é capaz de transformar o mal em bem. É conhecido o caso de algumas pessoas que entraram em um campo de concentração nazista como incrédulos e saíram como crentes. Observemos também o versículo 67: “Antes de ser afligido, andava errado; mas agora guardo a tua palavra”. Esta passagem evidencia claramente que o sofrimento corrigiu a vida do salmista. Ele vivia distante de Deus, mas seus problemas o reconduziram à fé. Isso reflete a sabedoria e a bondade divinas.

    Analisemos o uso da palavra “bem/bom” nos versículos 65, 68 e 71. A ideia transmitida não é que alguns filhos de Deus sofrem mais porque são piores que outros, mas sim que Deus tem um propósito ao nos afligir. Ele deseja que aprendamos Sua Palavra e descubramos o que é verdadeiramente importante na vida. Assim, as aflições têm um efeito positivo em nossas vidas. Consideremos também a mensagem do versículo 72: “Para mim vale mais a lei que procede de tua boca do que milhares de ouro e prata”. Esta declaração reforça o valor incomparável dos ensinamentos divinos em comparação com riquezas materiais.

    Outra mensagem confortante encontra-se no versículo 75: “… pela fidelidade você me afligiu”. Que revelação maravilhosa! A fidelidade de Deus permanece inalterada mesmo nos dias de aflição. Ao contrário do que se possa pensar, é precisamente a fidelidade divina que confere um significado profundo ao nosso sofrimento. As aflições nos lembram de nossa dependência de Deus, destacando que, na verdade, Deus não depende de nós.

    Eu, assim como o salmista, afirmo que Deus é bom e fiel, especialmente quando usa nosso sofrimento como uma ferramenta para corrigir nossas vidas. É benéfico depender da fidelidade de Deus. Considero o Salmo 119 como um salmo de Cristo, nosso Mestre. Ele nos ensina que nossa aflição é uma ferramenta nas mãos de Deus para nos manter próximos a Ele. Muitas pessoas argumentam que não podemos mais falar de Deus após todo o sofrimento humano. No entanto, este salmo nos mostra que a aflição ressalta a sabedoria e a fidelidade de Deus. Mais do que nossa capacidade de falar sobre Deus, o crucial é como Deus está se comunicando conosco!

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membro do conselho diretor Pieter Koenraad Meijer, Cand. Th. Meppel, Holanda. Presbítero docente (ministro da Palavra) jubilado nas Igrejas Reformadas da Holanda (Libertas). Candidaat em Teologia (Cand. Th., comparável ao Mestre em Divindade), Theologische Hogeschool van de Gereformeerde Kerken – vrijgemaakt (Faculdade Teológica das Igrejas Reformadas – Libertas), Kampen, Holanda, 1973. Pastor, Noordbergum, Holanda, 1973-78; missionário nos estados de Alagoas e Pernambuco, Brasil, 1978-1995; desenvolvimento de literatura para a igreja brasileira, Assen, Holanda, 1995-1996; pastor, Hardenberg-Oost, Holanda, 1996-1999 and Hardenberg-Baalder, Holanda, 1999-2012; jubilado desde 30 de setembro de 2012. Instrutor, Seitas e Heterodoxia Confessional, Seminário Presbiteriano do Norte, Recife, PE, Brazil, 1984-1985, 1988-1991; instrutor, Heterodoxia Confessional, Centro de Estudos Teológicos das Igrejas Reformadas do Brasil, Recife, PE, Brazil, 2002 e 2004; instrutor, Eclesiologia, Instituto João Calvino (instituto teológico das Igrejas Reformadas do Brasil), Recife, PE, Brasil, 2013; membro do Comitê da Missão Drenthe para contatos com Igrejas Reformadas e Presbiterianas na América Latina (em nome das Igrejas Reformadas – Libertas, na província holandesa de Drenthe), 2015-. Autor do Manual para Presbíteros e Diáconos, Resumo dos Cinco Artigos de Fé Contra o Arminianismo, e Estudos sobre o Catecismo de Heidelberg – co-autor). Instrutor, FITRef, Três Formas de Unidade, FITRef, 2013-

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