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Por: Charles Oliveira | Prompte et Sincere

     Um dos maiores desafios na igreja é que cada membro pense em si mesmo com sobriedade. Desde a queda, a humanidade tem pensado de si mesmo além do que convém. Embora hoje em dia as pessoas enfatizem a necessidade de amarem a si mesmos, as Escrituras pressupõem que as pessoas amam a si mesmas e, na verdade, tendem a se colocar acima dos outros. Em Romanos 12.3, Paulo está exortando a igreja a não pensar em si mesma de uma forma irrealista: “Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um.”

Paulo apresentou-se como um líder na igreja de Cristo, não de acordo com quaisquer méritos, mas “pela graça que lhe foi dada”. Esta graça não é a graça salvadora, mas o dom de Deus relativo ao seu apostolado. Em Romanos 1.5, Paulo mencionou seu chamado como uma graça recebida e apostolado para a obediência à fé entre todas as nações em nome de Cristo. Ele chamou a atenção dos romanos tendo em vista a graça que havia recebido. Logo em seguida, Paulo exortou os romanos a não alimentarem um pensamento sobre si mesmos que não correspondesse à sua própria realidade. Paulo exortou isso porque, como Fesko observa em seu comentário sobre Romanos, “desde a queda, os seres humanos tendem ao orgulho”. É interessante como as pessoas dizem: “Você deve amar a si mesmo para poder amar os outros”. Um coral do Harlem ficou famoso no Brasil nos anos 1990 depois de gravar uma música que dizia: “Quero que o mundo veja as pessoas amando a si mesmas, esse é o maior tipo de amor para ser compartilhado”. Observe que Jesus não ordenou que ninguém amasse a si mesmo. O amor a si mesmo era na verdade um pressuposto: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22.39).

Paulo já havia alertado os gentios contra o orgulho em Romanos 11:1-6. Agora ele se dirige a toda a igreja ordenando a todos que não pensassem muito alto sobre seus próprios dons. Uma igreja não pode funcionar bem se os seus membros têm uma opinião demasiado elevada sobre si próprios. Alguns crentes podem apreciar tanto um dom que podem até mesmo acabar pensando que possuem esse dom, quando não o têm. Conheço a história de muitos crentes que pensavam que tinham o dom de pregar, quando não o tinham. Quando tiveram a oportunidade de pregar, foi uma tragédia! Um rapaz queria cantar no coral, mas era completamente desafinado. Outro membro da igreja queria ensinar na Escola Dominical, mas sua aula era chata e a pessoa não estava familiarizada com os principais tópicos de teologia. Que bagunça! Tudo isso porque alguém possuía uma visão de si mesmo que não correspondia à realidade.

Mas há também o outro extremo. Algumas pessoas não conseguem ouvir um elogio. Quando alguém chega e diz: “Sua aula de domingo passado foi excelente!” a pessoa diz: “Não diga isso; eu não sou bom; sou um mero servo miserável, o estrume do cavalo do bandido.” Veja, não há problema em receber um elogio, pois se pensarmos com sobriedade sobre nós mesmos, poderemos dizer: “Obrigado, meu irmão; glória a Deus, que usou minha vida apesar das minhas limitações.” Existem algumas pessoas que sempre desprezam seu próprio trabalho. Quando dizemos: “Esta comida é deliciosa!” Elas dizem: “Não, o molho não estava bem temperado”. Pode ser medo do autoelogio, mas essa postura também pode esconder um coração egoísta que quer chamar ainda mais atenção. Em vez disso, pense sobriamente sobre você mesmo. Devemos ser realistas quando pensamos em nós mesmos, não pensando além do que convém, mas também não pensando aquém do que convém.

Como podemos saber a medida que regula a forma como devemos pensar sobre nós mesmos? A resposta está na parte final do versículo 3, “segundo a medida de fé que Deus repartiu a cada um”. Deus deu a cada um de nós uma medida de fé. Podemos saber quem somos a partir desta medida de fé, que funciona como o espelho de Deus que nos proporciona uma autoimagem realista. A medida de fé que Deus nos deu inclui uma verdadeira percepção das obras de Deus em nós. Podemos ter uma autoimagem equilibrada ao pensarmos na obra graciosa de Deus em nós.
Paulo escreveu em Colossenses 3:9-10: “Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou.” Despir-se do velho homem e revestir-se do novo homem são obras realizadas no passado. A renovação do novo homem é uma obra contínua realizada no presente pelo Espírito Santo que nos santifica diariamente. A compreensão desse trabalho realizado em nós deve nos ajudar a ter uma autoimagem equilibrada.

A Escritura também nos diz que devemos desenvolver a nossa salvação com temor e tremor, ao mesmo tempo que sabemos que é Deus quem realiza em nós tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade (Filipenses 2.12-13). Nós obedecemos, mas também não podemos elogiar a nós mesmos, pois é Deus quem nos move à obediência. Portanto, não alimente um pensamento sobre si mesmo mais elevado do que deveria. Pense moderadamente, segundo a medida da fé que Deus deu a cada um conforme a sua sabedoria e soberania. E que assim a sua igreja cresça firmada no autor e consumador da nossa fé: Jesus Cristo, o cabeça da igreja.

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Pastor da Christian Community Church (PCA) em Danbury, CT, desde janeiro de 2016.Ordenado ministro presbiteriano em 26 de fevereiro de 2000, pelo Presbitério de Japeri.

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