Por: Ulisses Horta Simões | Prompte et Sincere

Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque
fizemos somente o que devíamos fazer.
(Lucas 17:10, ARC).

28 de fevereiro de 1988! O programa televisivo britânico “That’s Life” tem como convidado no auditório, Nicholas Winton (1909-2015). Estava ele perto de completar 79 anos de idade. Pensando que meramente participaria de um programa comum sobre a vida de alguém, foi ele surpreendido pela apresentadora, Esther Rantzen. De início, uma história guardada por 50 anos: o livro escondido de Winton, em que constavam os nomes de centenas de crianças judias retiradas da antiga Tchecoslováquia, perto da iminente ocupação nazista. Aquelas crianças foram enviadas para o Reino Unido, para adoção de novos pais, pelo que foram salvas da morte.

Ninguém sabia dessa história, até que a esposa de Winton, descobriu o livro guardado por décadas, onde constavam não só os nomes das crianças, como também os de seus novos pais adotivos britânicos. Depois de mostrar o livro na tela, e de contar a história ante aquele idoso surpreso, Esther Rantzen disse: “Senhor Nicholas Winton, queria te dizer que as duas senhoras que estão, uma à sua direita, outra à sua esquerda, outrora eram daquelas crianças que o senhor salvou”. Se já não havia como conter as emoções, disse mais a apresentadora: “Se há neste auditório mais alguma pessoa salva pelo senhor Winton naquele distante 1939, que fique de pé!” Imediatamente, algumas dezenas de pessoas se levantam no entorno, aprofundando a emoção daquele que passou a ser conhecido como o “Schindler britânico”.

Nicholas Winton nunca alardeou seus feitos! Nunca expôs publicamente aquelas anotações, durante 50
anos. Nunca reivindicou qualquer glorificação pelo notável (e arriscado) feito! Simplesmente o fez! Todas as tentativas de desenhá-lo como herói, ele as repudiou.

O que esta história me lembra? Lembra-me Lucas 17; lembra-me o “servo inútil”. “Servo inútil”, naquele particular ensino de Jesus, não é o que nada faz; ao contrário, é o que faz tudo que o seu senhorio manda fazer. E, depois de tudo ter feito, em vez de se vangloriar, declama: Apenas sou inútil serviçal que diz: nada além do que devia ter feito eu fiz!

Não há glória; nem tampouco vanglória! É assim no Reino de Deus! Por quê? Porque é Deus quem efetua em nós tanto o querer quanto o realizar, segundo a Sua boa vontade, conforme Filipenses 2.13! Que glória pessoal há nisto? Nenhuma, senão, tão somente a daquEle que efetua Seu querer em nós e por nós!

“Pois, quem é que te faz sobressair? E que tens tu, que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?” (I Coríntios 4.7, ARA). Somos servos inúteis, se fazemos tudo o que Deus determinou que fizéssemos. Se não o fazemos, certamente estamos numa categoria ainda inferior!

Oro para que Deus me veja e reconheça como um de Seus “servos inúteis”, conforme Lucas 17.

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Presbítero “docente” (ministro da Palavra) da Igreja Presbiteriana do Brasil desde 1987.

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